Page 11 - newDATAmagazine® | 16>08>2022
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Vamos esquecer tudo o que nos disseram
no século XX sobre como seria o século XXI
…e como tal vai transformar as nossas cidades e o seu planeamento
INTRODUÇÃO conhecido nos anos 50, mas redesenhados e
otimizados e em maior quantidade e
Vamos esquecer tudo o que nos disseram certamente ainda mais vulgarizados. Mas as
no século XX sobre como seria o século XXI. relações sociais e de trabalho seriam
Parafraseando Richard Florida, se maioritariamente desestabilizadoras para
tirássemos alguém do ano 1900 e o este cidadão saído da segurança e
transportássemos subitamente para 1950, estabilidade dos anos 50 (de uma paradoxal
essa pessoa ficaria surpreendida com grandes estabilidade característica do período da
evoluções da tecnologia. Tudo seria diferente. Guerra Fria). Com a revolução sexual dos anos
O automóvel, o avião, a eletricidade chegando 60, o fim da Guerra Fria, o crescimento do
a todo o lado, as cidades em altura e em liberalismo económico dos anos 80, a
extensão reestruturadas em função do vulgarização do telefone móvel, do
automóvel, a casa totalmente remodelada computador pessoal e o aparecimento da
com eletrodomésticos, o telefone e a televisão. internet nos anos 90 a realidade social
Tudo se afiguraria surpreendente. O salto transformar-se-ia em algo muito distinto
tecnológico seria impressionante trazendo um daquilo que esse cidadão conhecia dos anos
vasto universo de novas máquinas para o dia a 50. Em particular, o papel do homem e da
dia das cidades e do nosso hipotético cidadão. mulher na sociedade misturou-se decorrendo
Mas os hábitos de trabalho, os hábitos sociais de uma nova perceção social de liberdade de
e as rotinas de família seriam ainda muito decisão, participação e direitos que esvaiu as
reconhecíveis e familiares a esse viajante do a n t e r i o r e s d i f e r e n ç a s d e g é n e r o ,
tempo. Nomeadamente, os ideais de trabalho transformando as relações de trabalho e de
e de constituição familiar seriam os da família.
permanência quer num emprego sólido, quer A progressão do liberalismo económico,
num agregado familiar convencional, estável e c o m a a c e l e r a ç ã o e s t i m u l a d a p e l a
duradouro. Em qualquer dos casos, tendendo g l o b a l i z a ç ã o , e a v u l g a r i z a ç ã o d a
para um ideal de previsibilidade. obsolescência planeada transformaram os
Todavia, se transportássemos um cidadão paradigmas económicos da estabilidade e
de 1950 para o ano 2000, a sua experiência iria crescimento regular em dinâmica e criação
ser muito diferente. As transformações contínua de novas necessidades de consumo.
tecnológicas, na sua maioria, não seriam Como consequência, o casamento e o
especialmente chocantes. As máquinas emprego deixaram de ser contratos para a
seriam maioritariamente as mesmas. vida, as relações de emprego e de família
Continuariam a existir carros, aviões, tornaram-se voláteis e até indesejáveis face à
eletrodomésticos e cidades, mais ou menos indução crescente de uma necessidade de
nos mesmos modos que os havíamos sucesso e renovação.
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